Doença de Fabry

Há algum tempo, durante o meu período de Residência Médica em Neurologia, um de nossos preceptores chamou a atenção para o fato de se fazer muito mais diagnósticos de síndrome de Guillain-Barré que de doença de Fabry — apesar de ambas terem prevalências mais ou menos semelhantes. Como a síndrome de Guillain-Barré tem evolução aguda e representa diagnóstico diferencial com outras doenças de notificação compulsória (poliomielite, botulismo), normalmente a atenção é maior para esses casos. A doença de Fabry (e várias outras), por outro lado, receberam o apelido nada abonador de “doenças órfãs”, das quais pouco se aprende durante a formação médica e pouco se investe em tratamentos melhores.

Continue reading

Minúcias Topográficas em Lesões no Tronco

Houve grandes progressos no conhecimento neurológico a partir dos séculos XIX e XX, não acompanhados inicialmente por iguais progressos na terapêutica. Isso, devido à complexidade da organização das estruturas nervosas e à pouca (ou inexistente) regeneração após lesões, acabou por criar a imagem da Neurologia como especialidade que faz diagnósticos tão precisos quanto possível mas que muito pouco beneficiam o(a) paciente.

Continue reading

Sinal de Babinski

Joseph Babinski (1857 – 1932) foi um eminente neurologista francês, tendo trabalhado no Hospital Salpêtrière entre 1885 e 1893 como assistente do professor Jean-Martin Charcot (1825 – 1893). Em fevereiro de 1896, na Sociedade Biológica de Paris, ele apresentou os resultados de um estudo das diferentes respostas à estimulação plantar em pessoas sem doença neurológica e em portadores de hemiplegia, tendo o autor relacionado a extensão do hálux à estimulação com disfunção do trato piramidal.

Continue reading

Ética Aplicada aos Epônimos na Neurologia

Faz algum tempo (desde meados de 1990) que a doença de Hallervorden-Spatz “mudou de nome” — primeiramente para “neurodegeneração com acúmulo cerebral de ferro 1” e, mais recentemente, para “neurodegeneração associada à pantotenato quinase”. Quanto ao porquê de tal mudança, ela se deveu ao envolvimento ativo dos neuropatologistas Julius Hallervorden (1882 – 1965) e Hugo Spatz (1888 – 1969) no programa Aktion T4 de eutanásia do regime nazista e no uso de cérebros obtidos por tais meios.

Sobre Julius Hallervorden, uma citação diz tudo:

Continue reading