Faz algum tempo (desde meados de 1990) que a doença de Hallervorden-Spatz “mudou de nome” — primeiramente para “neurodegeneração com acúmulo cerebral de ferro 1” e, mais recentemente, para “neurodegeneração associada à pantotenato quinase”. Quanto ao porquê de tal mudança, ela se deveu ao envolvimento ativo dos neuropatologistas Julius Hallervorden (1882 – 1965) e Hugo Spatz (1888 – 1969) no programa Aktion T4 de eutanásia do regime nazista e no uso de cérebros obtidos por tais meios.
Sobre Julius Hallervorden, uma citação diz tudo:
… eu aceitei os cérebros, é claro; de onde eles vieram e como eles foram obtidos não eram de minha conta.
Pelos mesmos motivos, a síndrome de Van Bogaert-Scherer-Epstein também mudou de nome, e é atualmente denominada de “xantomatose cerebrotendinosa”. O neuropatologista Hans Joachim Scherer (1906 – 1945) teve também envolvimento no programa nazista de eutanásia e fez uso de cérebros obtidos por tais meios.
Há, nestes casos citados, claras implicações éticas na continuidade do uso dos epônimos. Outros figuram, entretanto, numa “zona cinzenta” por terem tolerado as atrocidades nazistas. Ou “protestado pouco”. Ou terem sido adeptos da eugenia. Mesmo com a melhor das intenções, é importante ter uma linha demarcatória clara para não se recair numa “caça às bruxas”.
A proposta de KONDZIELLA, 2009 parece a mais sensata: ter a possibilidade de manter também os epônimos (precedido da palavra “anteriormente”), tendo em mente o contexto histórico. No caso da “neurodegeneração associada à pantotenato quinase” ficaria “neurodegeneração associada à pantotenato quinase, anteriormente doença de Hallervorden-Spatz”.
E assim ficaria bastante claro (apesar de longo) o exemplo negativo.
Bibliografia:
Kondziella, D. Thirty Neurological Eponyms Associated with the Nazi Era. Eur Neurol. 2009;62:56–64.
Strous, R.D.; Edelman, M.C. Eponyms and the Nazi Era: Time to Remember and Time for Change. IMAJ. 2007;9(3):207-14.