Desde criança eu já ouvia histórias na família de um uso muito particular da moxabustão direta, supostamente para acalmar crises de birra infantis (e também com finalidades educativas). Minha bisavó utilizava somente pontos localizados na mão do Meridiano Daichō/Dachang — normalmente o IG4 [Gōkoku/Hegu] ou, mais ocasionalmente, o IG2 [Jikan/Erjian] ou o IG3 [Sankan/Sanjian]. Nenhum outro ponto deste ou de outros Meridianos nos membros superiores serviam para esta “receita caseira”.
O mais perto que cheguei de uma explicação para esse uso seria a ligação do Meridiano Yōmei/Yangming com quadros de irritabilidade e mania e o fato de o ponto IG2 ser Ponto Água do Meridiano (que corresponde ao elemento Metal) e o IG4, Ponto Fonte. Mas nunca achei esse uso descrito nos livros-texto e acabei relegando esse uso da moxabustão como uma “técnica disciplinadora” — mesmo achando curioso que se especificasse o Meridiano Daichō/Dachang em particular, e apenas em pontos distais na mão.
Até que um dia achei este trecho no livro de Denmei Shudō (1932- ):
Before World War II, and for a while thereafter, parents with young children who threw temper tantrums applied moxibustion on LI-2. It served both as punishment and as treatment. So it was a very practical method (…)
Acabei imediatamente me lembrando da introdução de Seamus Heaney (1939-2013) à sua tradução do poema Beowulf:
What happened was that I found in the glossary to C.L. Wrenn’s edition of the poem the Old English world meaning “to suffer,” the word þolian; and although at first it looked completely strange with its thorn symbol instead of the familiar th, I gradually realized that it was not strange at all, for it was the word that older and less educated people would have used in the country where I grew up. “They‘ll just have to learn to thole,” my aunt would say about some family who had suffered an unforeseen bereavement. And now suddenly here was “thole” in the official textual world, mediated through the apparatus of a scholarly edition, a little bleeper to remind me that my aunt’s language was not just a self-enclosed family possession but an historical heritage (…)
E o parágrafo conclui com:
… Þolian had opened my right-of-way.
Quem poderá dizer com quais outros achados de valor do passado possamos nos deparar, se tivermos sorte e prestarmos suficiente atenção?
Bibliografia:
______. Beowulf. 1st ed. Tr. Seamus Heaney. W.W. Norton & Company, 2000. p. 25.
Shudō, Denmei. Finding Effective Acupuncture Points. Eastland Press, 2003. p. 162.