Cefaleias trigemino-autonômicas

É comum (mesmo entre profissionais médicos) chamar qualquer dor de cabeça mais forte de “enxaqueca”, mas existem outras formas de cefaleias bem distintas e que também se apresentam com dor de forte intensidade.

Dentre estas, destaca-se um grupo de cefaleias primárias denominado cefaleias trigemino-autonômicas, com envolvimento provável de vias hipotalâmicas. Elas apresentam-se sempre de maneira unilateral na cabeça (regiões orbital, supraorbital e/ou temporal), com forte intensidade e associadas a sintomas autonômicos ipsilaterais.

Os sintomas autonômicos locais que podem ocorrer durante a crise compreendem:

  • Congestão conjuntival
  • Lacrimejamento
  • Miose
  • Edema palpebral
  • Ptose palpebral (associada ou não a síndrome de Horner)
  • Sudorese facial
  • Congestão nasal, rinorreia

A atual edição da Classificação Internacional de Cefaleias (ICHD-3) relaciona as seguintes síndromes:

  • Cefaleia em salvas (episódica ou crônica)
  • Hemicrania paroxística (episódica ou crônica)
  • Ataques de cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração
    SUNCT (episódica ou crônica)
    SUNA (episódica ou crônica)
  • Hemicrania contínua
Características distintivas e diagnósticos diferenciais das cefaleias trigemino-autonômicas:
Características distintivas Diagnósticos diferenciais
Cefaleia em salvas Duração: 15 a 180 minutos
Frequência: 0,5 a 8 vezes ao dia
Agitação e inquietude podem ou não ocorrer em associação aos sintomas autonômicos. Ocorrência sazonal e ritmicidade circadiana. Predominância masculina.
Migrânea, com sintomas autonômicos associados
Hemicrania paroxística Duração: 2 a 30 minutos
Frequência: superior a 5 vezes ao dia
Agitação e inquietude podem ou não ocorrer em associação aos sintomas autonômicos
Resposta terapêutica à indometacina
Cefaleia em salvas
SUNCT Duração: 1 a 600 segundos
Frequência: até centenas de vezes ao dia
Padrão: crises isoladas, agrupadas ou agrupadas sem melhora total da dor entre as crises (padrão “dente de serra”)
Presença de congestão conjuntival E lacrimejamento
Neuralgia do trigêmeo
Cefaleia em salvas, hemicrania paroxística (no caso das crises agrupadas)
SUNA Duração: 1 a 600 segundos
Frequência: até centenas de vezes ao dia
Padrão: crises isoladas, agrupadas ou agrupadas sem melhora total da dor entre as crises (padrão “dente de serra”)
Presença de congestão conjuntival OU lacrimejamento (ou ausência de ambas)
Hemicrania contínua Dor contínua, com duração superior a 3 meses
Agitação e inquietude podem ou não ocorrer em associação aos sintomas autonômicos
Resposta terapêutica à indometacina
Migrânea crônica
Cefaleia em salvas crônica

As cefaleias trigemino-autonômicas apresentam variados fatores desencadeantes das crises, tais como: ingesta de álcool (cefaleia em salvas, hemicrania paroxística), substâncias vasodilatadoras (cefaleia em salvas), estímulos cutâneos faciais (SUNCT, SUNA).

Para controle das crises, ou tratamentos preventivos, existem as seguintes opções:

Tratamentos das crises Tratamentos preventivos
Cefaleia em salvas Derivados do ergot
Triptanos
Máscara de O2 (12 L/min por 15 minutos)
Metilprednisolona
Verapamil
Topiramato
Lítio
Hemicrania paroxística Indometacina
Verapamil
Topiramato
SUNCT Lidocaína endovenosa Lamotrigina
Gabapentina
Topiramato
SUNA
Hemicrania contínua Indometacina
Topiramato
Gabapentina
Amitriptilina

Outras opções de tratamento compreendem bloqueios do nervo occipital maior com anestésicos locais ou corticosteróides.

Bibliografia:

Cohen, A. Trigeminal Autonomic Cephalalgias: A Diagnostic and Therapeutic Overview. ACNR. 2014;14(4):12-5.
ICHD-3 – The International Classification of Headache Disorders, 3rd edition. Acessado em junho de 2021.

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