Uma leitura do Capítulo 24 (“Descrição e Análise das Antigas Técnicas de Acupuntura”) do livro Acupuntura um Texto Compreensível mostra a profusão de técnicas de agulhamento que surgiram desde os tempos do Huáng Dì Nèi Jīng.
O texto cita, a certa altura, críticas de dois médicos do período da Dinastia Míng (1368-1644) a aspectos fantasiosos das técnicas de agulhamento:
De Gao Wu (autor do livro Coleções de Acupunturistas Notáveis [Zhenjiu Juying] de 1537):
O autor GAO escreveu: “As pessoas hoje em dia… absurdamente sustentam que hoje sendo um certo dia, a uma certa hora, um certo ponto se abrirá e, nesta hora, todas as doenças podem ser tratadas com Acupuntura e Moxa naquele ponto. (…) [Esta doutrina] engana muita gente!” Ele condena também muitas superstições e práticas idealísticas e feudais que se arrastaram na Acupuntura, embora não mencionadas nos clássicos.
E de Wang Ji (citado no post Alguns Pensamentos Críticos Sobre a Tradição de 27/11/2020, e autor do livro Perguntas e Respostas Sobre Acupuntura e Moxa [Zhenjiu Wendui] de 1532):
O autor WANG JI acreditava que era desnecessário obedecer estritamente às regras descritas em textos antigos, que estipulavam quantos décimos de um cun uma agulha deveria ser inserida em determinado ponto, ou por quantas respirações do paciente a agulha deveria ficar retida, ou quantos cones de moxa deveriam ser queimados em um determinado ponto de Acupuntura. Wang Ji argumentava que estes fatores deveriam ser determinados pelas circunstâncias específicas de cada caso; a profundidade de inserção deveria estar de acordo com a profundidade da doença; a duração da inserção deveria estar de acordo com o tempo que se levaria para obter o Qi; e o número de cones de moxa a ser queimado variaria de acordo com a gravidade da doença e com a massa muscular da região. Estas concepções de Wang Ji ainda são aplicadas na prática clínica moderna.
E:
O autor WANG JI criticava o aumento muito rápido de métodos de inserção (tais como os 14 métodos do Ode da Agulha Dourada [Jīn Zhēn Fù]) que considerava como algo inócuo e desnecessário, sustentando que os métodos descritos no Nan Jing eram suficientes tanto para fortalecer como para dispersar. Era admirável a atitude prática e o ceticismo de Wang Ji em relação a fatos inúteis.
Quanto ao efeito do agulhamento sobre o Qì, o que se têm como confirmados pela experiência (e não apenas pela teoria) são:
- Intensidade e velocidade da manipulação da agulha
(Manipulação mais vigorosa e rápida: dispersão; manipulação mais suave e lenta: fortalecimento) - Profundidade da inserção da agulha
(Inserção profunda: dispersão; inserção superficial: fortalecimento) - Tempo de permanência da agulha
(Permanência por período de tempo maior: dispersão; permanência por período de tempo menor: fortalecimento) - Massageamento da região agulhada
(Método complementar para obtenção do Dé Qì; também para condução da sensação do Qì)
O Capítulo conclui com:
O verdadeiro significado de “fortalecer o que está Deficiente e dispersar o que está Excessivo” ainda tem que ser encontrado na prática clínica real. A sensação de Acupuntura, força e duração da sensação dependerá, em cada caso, de fatores diversos tais como o paciente e doença específicos, os Canais de Energia e Pontos de Acupuntura elegidos para terapia, assim como o tipo específico da agulha e o método de tratamento usados.
… Como foi analisado, as várias técnicas de fortalecimento e de dispersão registradas em textos médicos através dos tempos incluem elementos que não têm base empírica (direção de rotação, número de operações, hora da punção com agulha, sexo do paciente, etc), assim como de elementos baseados na experiência clínica real (profundidade e direção da inserção da agulha, força do estímulo, duração da punção com agulha, e a extensão da condução da sensação de Acupuntura). (…) Qualquer tentativa de resolver as complexidades das condições Excessivas ou Deficientes que ignora o estado específico do corpo ou da doença através da aplicação mecânica de alguns métodos estabelecidos, certamente, falhará.
Bibliografia:
Shanghai College of Traditional Medicine. Acupuntura um Texto Compreensível. São Paulo: Roca, 1996. p. 483-502.