O endocrinologista húngaro János Hugo Bruno “Hans” Selye (1907-1982), radicado no Canadá, conduziu pesquisas sobre a síndrome de adaptação geral e popularizou o termo estresse entre o público geral. Em sua época de graduação, na Universidade de Praga, Hans Selye havia se deparado com muitos pacientes sem um diagnóstico definido: dores, anorexia, aparência doentia, falta de concentração eram algumas das queixas mais comuns.
Posteriormente ele viajaria para a América do Norte para fins de aperfeiçoamento profissional e acadêmico, e iniciou na Universidade McGill em Montreal (após uma breve passagem pela Universidade John Hopkins) a linha de pesquisa que o ocuparia durante toda a sua carreira. Lá, em 1936, ele percebeu que injeções de extratos de órgãos (e também de substâncias tóxicas, como a formalina) desencadeavam respostas não-específicas nos modelos animais semelhantes àquelas dos pacientes “cronicamente doentes”. Estas observações resultaram no artigo A syndrome produced by diverse nocuous agents, publicado no mesmo ano na Nature — considerado por muitos como um dos marcos iniciais das pesquisas sobre o estresse.
A síndrome de adaptação geral, descrita no artigo, compreendem o conjunto de reações de natureza inespecífica do organismo a agentes que possam comprometer a homeostase. Elas subdividem-se em:
- fase de alarme
(mobilização das defesas; descarga adrenérgica) - fase de resistência
(defesas instaladas; níveis cronicamente aumentados de adrenalina e cortisol) - fase de exaustão
(fadiga das defesas; sintomas e sinais de “doenças do estresse”)
É importante notar que, para Selye, apenas o estresse (condição do organismo frente aos vários fatores de perturbação da homeostase) decorrentes de fatores causais cronicamente mantidos ou que excedam os mecanismos de adaptação seriam causas de doenças. A estas modalidades de estresse ele denominou “distresse” (e outras modalidades que ajudem o restauro da homeostase denominam-se, por contraposição, “eustresse”).
Hans Selye lançou, nos anos seguintes, muitos livros de divulgação do conceito do estresse (mais especificamente o “distresse”) e o assunto, que já era motivo de preocupação desde há muito tempo — vide a quantidade de antigos reclames publicitários de “tonicos para a neurasthenia” — continua em voga até hoje. Ultimamente tem se empregado também técnicas de terapia e de meditação vindas do Oriente (Índia, China), com objetivos (“controle do estresse”) alheios aos originais.
Apesar de não se ter confirmado a ideia de Hans Selye do estresse como “origem unitária das doenças” (e, inclusive, de uma das doenças mais propaladas por ele como causadas pelo estresse — a úlcera gastroduodenal — teve demonstrada uma etiologia infecciosa), muitas doenças têm causas indiretas no estresse.
E há também a questão dos fatores que determinam maior ou menor susceptibidade ao estresse.
Bibliografia:
Pinoli, Monica; Elenkov, Ilia. Hans Selye and the 80th Birthday of Stress Research. BrainImmune: Trends in Neuroendocrine Immunology. 17/11/2016. Acessado em julho de 2020.
O Stress. In: Civita, V. (ed.) Medicina e Saúde Vol. III. Abril Cultural, 1970. p. 688-9.