Vários médicos foram chamados a dar explicações aos cientistas de seu século. Foram acusados de não se dedicarem totalmente à profissão, de não tratarem de seus doentes com interesse. Esse comportamento era considerado importante para distinguir um médico de qualquer outro cientista ou profissional.
…Se o atendimento que dispensavam demonstrava dedicação, se eram hábeis, solícitos, se não faziam qualquer discriminação entre os doentes, suas consultas pecavam pela falta de observação direta dos pacientes. Os médicos, frequentemente, se contentavam com a descrição dos sintomas, a distância. E, a partir dos dados colhidos dessa maneira indireta e assistemática, estabeleciam o diagnóstico, orientavam o tratamento.
Antes de se considerar esse comportamento inescrupuloso, entretanto, é necessário que se analisem outros fatores. Um deles foi a grande convicção na possibilidade de solucionar o problema através das “demonstrações matemáticas”. Essas demonstrações eram a análise de dados através de raciocínio matemático ou mecanicista, baseado no perfeito conhecimento do corpo humano, de seus mecanismos e de determinados sintomas.
… O estabelecimento de um diagnóstico e de um prognóstico, sem contato direto com o paciente, não era, pois, o resultado de um comportamento descuidado do médico, e sim a consequência da segurança excessiva depositada por ele em seus conhecimentos e nas teorias em que se baseava.
Vê-se que algumas críticas (“a de serem mais especuladores, mais cientistas de gabinete, do que homens ligados à realidade das doenças e da morte; a de não possuírem o ideal de aliviar os sofrimentos, ideal que representava a própria razão de ser da medicina”) nunca saem de voga.
Bibliografia:
Século XVII: Críticas à Iatroquímica e Iatromecânica. In: Civita, V. (ed.) Medicina e Saúde: História da Medicina Vol. I. Abril Cultural, 1970. p. 170-1.