Capítulo 14 do Sù Wèn [素問]: da Sopa/Papa de Arroz à Canja

O Capítulo 14 do Sù Wèn [素問] faz uma menção um tanto quanto críptica da “sopa de arroz, do vinho turvo e do vinho doce” para cuidar da saúde, indicando ser este um uso bastante antigo. A sopa de arroz, em particular, é comum nos diversos países asiáticos onde se encontra presente a rizicultura.

O Imperador Amarelo perguntou:“Qual é o método de fazer a sopa de arroz, o vinho turvo e o vinho doce com cinco cereais?” Qibo respondeu: “Manter o arroz com casca em fermentação e os pedúnculos de arroz como combustível, já que a energia do arroz com casca é completa em relação à de todas as estações e direções, e que o pedúnculo do arroz é robusto.” Perguntou o Imperador Amarelo: “Por que isso?” Qibo respondeu: “O arroz com casca recebe a energia harmoniosa do céu e cresce na terra de altitude e centralização corretas, por isso recebe a energia que é mais completa, já que é colhido na estação correta, e o pedúnculo de arroz é mais robusto.”

(WANG, trad. de 2001.)

O texto do Sù Wèn prossegue com:

Disse o Imperador Amarelo: “Nos tempos antigos, a sopa de arroz, o vinho turvo e o vinho doce, preparados pelos médicos, eram usados em sacrifícios e para entrter os convidados (…)”

“No decorrer dos tempos antigos, o povo dava menos atenção à conservação da saúde e seus corpos se tornaram fracos , mas quando o mal exógeno levou vantagem em invadir, após o paciente ter ingerido um pouco de sopa de arroz, vinho turvo e vinho doce, a doença estava curada.”

O Imperador Amarelo perguntou: “Nos dias de hoje, embora se tome um pouco de sopa de arroz, vinho turvo ou vinho doce, não se tem certeza de curar a doença, e isso por quê?” (…)

(IDEM.)

Aparentemente o texto não faz muita diferença entre a sopa propriamente dita e fermentados alcoólicos, embora posteriormente se tenha feito tal distinção. E a menção da “decadência dos dias de hoje” em relação aos “tempos antigos” repete o tema do Capítulo 1 do livro (“Sobre a Preservação da Energia Saudável nos Humanos nos Tempos Antigos”).

Mesmo com a incerteza citada dos resultados atuais, a sopa (ou papa, dependendo da quantidade de água e tempo de cozimento) de arroz é ainda bastante empregada como alimento de fácil digestão, preparo simples e sabor neutro adequado para diversos tipos de acompanhamentos. No Japão, ao contrário de outros países asiáticos, a sopa/papa de arroz (okayu [お粥]) é considerada um alimento quase que exclusivamente para bebês, enfermos(as)/convalescentes e idosos(as). Um uso frequente é para indigestão ou gastroenterite, com ameixa em conserva (umeboshi [梅干]).

Quanto às bebidas alcoólicas, nos dias de hoje se prefere utilizá-las como veículos e conservantes para ervas.

Nota:

A sopa/papa de arroz indiana (“kanji” em tâmil e malaiala; “ganji” em telugo, concani, canarês e túlu; “kaanji” em oriá) influenciou a “canja” portuguesa. Preparada com arroz, frango e temperos leves, possui usos alimentares e medicinais semelhantes à congênere asiática.

Bibliografia:

Congee. Wikipedia. Acessado em junho de 2021.
Okayu: santo remédio para a dor de barriga. Yakissoba, não. 22/02/2012. Acessado em junho de 2021.
Wang, Bing. Princípios de Medicina Interna do Imperador Amarelo. (trad.) São Paulo: Ícone Editora, 2001. p. 93.

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