“Às doenças onde a puntura não seja adequada, aplicar moxibustão.”
“… para aqueles em que tanto o Yin quanto o Yang estiverem astênicos, aplicar terapia de moxibustão. Quando o paciente tiver os pés frios e o frio for bastante severo, ou que a musculatura junto aos ossos estiver deprimida, ou que a extensão do frio tenha ultrapassado os dois joelhos, deve-se aplicar moxibustão no ponto Sanli [E36] (…)”
“… quando o canal estiver deprimido, aplicar a terapia de moxibustão; quando o canal estiver nodoso e firme, aplicar também a moxibustão.”
(Citações do Capítulo 73 [“Cada Qual de Acordo com sua Capacidade”] do Ling Shu)
A moxabustão consiste na aplicação de calor sobre pontos específicos da pele. Utilizava-se inicialmente pedras pré-aquecidas, passando-se para a combustão de diferentes materiais até se chegar ao uso mais atual da artemísia (yomogi [蓬]); dependendo da fonte consultada citam-se diferentes espécies: princeps, montana ou argyi.
Funções energéticas tradicionais da moxabustão:
- Nutrição
- Aquecimento
- Tonificação do Yang
- Tonificação do Pi, do Shen, do Ren Mai e do Chong Mai
- Harmonização do Qi e do Xue
- Dispersão de Estagnações e do Xie Qi (particularmente do Frio e da Umidade)
As propriedades da artemísia modificam-se um tanto dependendo do processamento inicial (separação de pequenos ramos e nervuras) e também do tempo e das condições da secagem. A moxa mogusa possui cor amarelo-clara, aspecto lanoso e queima suave; a wakakusa, por outro lado, é verde-escura, o aspecto é menos homogêneo e a queima produz calor mais forte e maior quantidade de fumaça. Faz-se uso da wakakusa na moxabustão indireta, particularmente sob forma de bastões e no kyūtōshin [灸頭針] (moxa no cabo da agulha), reservando-se a mogusa para formas de moxabustão direta (okyū [お灸]).
Devido a diferenças na China e no Japão do desenvolvimento das medicinas tradicionais, o okyū manteve-se popular no Japão (vide o post Matsuo Bashō [松尾芭蕉] de 05/02/2020, que cita o tratamento nos parágrafos iniciais do Oku no Hosomichi [奥の細道] como preparativo para a longa viagem).
Nos métodos mais antigos do okyū era necessário queimar o ponto de acupuntura, com formação de bolha e cicatriz, mas devido a vários fatores raramente se faz isso hoje em dia. Muitas vezes utiliza-se cones pequenos, deixando-se queimar apenas 80% dele antes de retirá-lo rapidamente, e normalmente o efeito proporcionado já é suficiente e sem causar dor excessiva, como já o mostrou o terapeuta japonês Hara Shimetarō [原志免太郎] (1882-1990 EC). Assim o fazendo a sensação no ponto é bem próxima do agulhamento; repete-se algumas vezes o procedimento sobre os pontos até se atingir o efeito desejado.
Existem técnicas bastante variadas dentro da Acupuntura Japonesa, o que possibilita que terapeutas possam realizar exclusivamente (ou quase exclusivamente) a moxabustão nos tratamentos — vide os posts Tratamento da Polaridade Suprema de Sawada (Sawada Taikyoku Ryōhō [澤田太極療法]) de 27/12/2020 e Estilo de Moxabustão de Fukaya de 06/09/2020.
Bibliografia:
Auteroche, B. e Auteroche, M. Guia Prático de Acupuntura e Moxibustão. São Paulo, Andrei: 1996. p. 224‑6.
Bing, Wang. Princípios de medicina interna do Imperador Amarelo. São Paulo, Ícone, 2001.
Cunha, Antônio A A; Hoga, Teruyoshi. A Moxaterapia Japonesa Okyu-Yaito. São Paulo, Ícone, 2006.
Piñana, Felip C. O Calor que Cura: Okyu, Moxabustão Japonesa. São Paulo: Editora Inserir, 2018.